terça-feira, 23 de agosto de 2011

Padre Luís Guanella: homem de Deus

O homem de Deus é aquele que vive uma espiritualidade que sabe unir os dons de natureza com os dons sobrenaturais da graça, que sabe unir o humano ao divino. O Pe. Guanella foi um desses homens de Deus porque procurou, durante toda a sua vida, conformar o seu pensar e o seus agir com a vontade de Deus.
O homem, para o Pe. Guanella é objeto do amor de Deus, no sentido ágape, amor incondicional.
O centro de toda a sua espiritualidade foi a certeza de ser amado por Deus, com um amor terno e palpável. Todos os pensamentos, palavras, gestos e ações do Pe. Luís Guanella tinham, como ponto de referência constante, o Amor Paterno de Deus. Esta foi a rocha que deu sustentação à sua fé. Por isso deixo-se educar pelo amor do Papai do Céu, no sentido de configurar, de conformar a sua vontade com a de Deus Pai Providente e Misericordioso.
Que meios utilizou para alimentar tamanha fé? Antes de mais nada, a Sagrada Escritura. Nela encontrava a palavra do Pai, do qual se sentia ternamente amado. Sempre foi dócil e aberto à vontade de Deus, manifesta na Escritura. Dizia ele que na Sagrada Escritura o Papai Celeste revela o seu rosto. Dizia que os profetas permanecem fiéis em meio às adversidades da vida porque iluminados pela Palavra de Deus.
Outro meio para viver esta espiritualidade filial foi a oração e contemplação, a partir da Bíblia. A oração e a contemplação eram vistas como indispensáveis para a vida espiritual como o respiro para viver. Deus fala na Bíblia coração a coração com o seu filho amado. O Pe. Guanella meditava e guardava a Palavra de Deus no seu no coração, a exemplo da Virgem Maria. A santificação só acontece quando nos deixamos reconciliar com Deus. O Pe. Guanella valorizou muito o sacramento da Confissão, meio privilegiado de santificação. A transformação do mundo, segundo ele, começa a partir de dentro.
Por fim, o seu amor fiel e obediente à Igreja e ao Papa. O amor que teve pela mãe Igreja foi tão veemente que se inflamava quando se referia à Santa Mãe Igreja. Certa vez, numa homilia que proferia a um grupo de peregrinos milaneses ao Santuário Sagrado Coração de Jesus, em Como/Itália, chegou às lágrimas quando comparou a perseguição que estava se fazendo à Igreja, a uma estátua de Nossa Senhora de Lourdes, que um bom filho (assim chamava os portadores de deficiência), tinha quebrado.
O Pe. Luís Guanella foi um homem de encantadora serenidade que transparecia no seu rosto. Reflexo da sua paz no coração, da sua alegria espiritual, da sua santidade de vida. Meio privilegiado de intimidade com Deus foi, para o Pe. Guanella a Santíssima Eucaristia. Todos os seus projetos e empreendimentos eram planejados na presença e à luz do Santíssimo Sacramento.
A sua espiritualidade filial fez com que durante todo o peregrinar dos seus dias estivesse em sintonia com o projeto de amor do Pai, em cujos braços vivia um profundo e confiante abandono. Toda a sua vida foi conduzida pela Divina Providência, e isto se verifica na sua autobiografia “Os caminhos da Providência”.  Isto não quer dizer que viveu no ‘quietismo’. Agia como se tudo dependesse dele, mas ao mesmo tempo confiava como se tudo dependesse de Deus. Tinha uma visão antropológica, teológica e cosmológica aberta. Mas sempre foi realista. Toda a criação ficou marcada pelo pecado original, que deixou a concupiscência (propensão ao mal). Outro meio indispensável de santificação para o Pe. Guanella foi o da contínua ascese (mortificação, sacrifício, penitência), já que tinha clara consciência de que o homem, embora redimido pela graça, precisa de contínuos esforços para fazer o bem e superar o mal.
Para renovar o mundo e a sociedade, precisamos, portanto, olhar o exemplo dos santos e começar a transformação, a mudança, a partir de nós mesmos, a renovarmo-nos a partir de dentro.

* Pe. Mauro Vogt - SdC