segunda-feira, 4 de abril de 2011

A PRIMEIRA FINALIDADE DO INSTITUTO

“A finalidade primária do Instituto dos Servos da Caridade é a santificação dos
próprios membros”

O mundo dos interessados se une em associações de comércio, indústria, estudo e ciências, para avançar no caminho do progresso humano; o mundo dos cristãos que creem e põem em prática é justo que se organizem associações de ajuda material, de subsídio moral e religioso para a prosperidade temporal e espiritual da sociedade crescente.
A razão deseja-o, a lei eclesiástica encoraja, a lei civil deve consentir. Todavia, numa associação apenas civil, espera-se que os membros estejam bem intencionados, concordem para garantir o bom êxito dos próprios interesses materiais; o mesmo com os membros de uma associação religiosa: eles têm o grande dever de recorrer seriamente às potências da mente, do coração e do próprio corpo para atingir, em grau pleno e seguro, a prosperidade própria, que consiste na santificação cristã e religiosa.
A razão, a fé e a prática constante de vinte séculos ensinam que cada membro de um Instituto do mesmo modo que tem deveres para consigo, ele possui o direito que cada membro, segundo a própria capacidade e a graça que se percebe ter recebido de Deus para o próprio bem e para dar bom exemplo aos coirmãos, se empenhe com todo esforço para obter a santificação da própria alma.
A santificação da própria alma cada Servo da Caridade a obtém através do aprofundamento e da prática do célebre discurso que nosso Senhor pronunciou quando do monte instruía as turbas dizendo: “Bem-aventurados os pobres em espírito porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os puros de coração porque eles verão a Deus; e bem-aventurados também aqueles que têm fome e sede justiça, que consiste no santo desejo de sempre e em tudo cumprir a vontade de Deus; bem-aventurados, ainda são eles porque serão saciados em seus santos desejos”. A doutrina dos Conselhos evangélicos que constitui o compêndio das virtudes praticadas pelo próprio Jesus resultou na famosa doutrina dos verdadeiros sábios e sábios cristãos e a prática desta doutrina, até o heroísmo, prática perseverante até o fim da vida, aperfeiçoa os santos na Igreja de Jesus Cristo e os glorifica no excelso paraíso.
Consequentemente cada bom Servo da Caridade deve gloriar-se do estudo e da profissão dos votos religiosos como suprema honra; deve estimar a profissão dos votos religiosos como o maior dos tesouros; deve praticar a essência das virtudes com verdadeira dedicação.
Sabemos, muito bem, que a perfeição dos votos religiosos assemelha-se a uma escada de oito degraus e que se sobe aos poucos, degrau por degrau, segundo as forças que cada um possui e segundo a graça que recebe de Deus; mas também se conhece a advertência do Apóstolo quando, ao falar para os cristãos de boa vontade, sugere o padecer por amor da justiça e o empenhar-se com toda determinação em obter na luta da vida a coroa da vitória. E falando em modo mais prático ainda, é absolutamente necessário que todo Servo da Caridade entre com reta intenção no Instituto,
que tenha as atitudes para observar o Regulamento e se aplique de boa vontade, deixando, depois, espaço à graça do Senhor de conduzir as almas à perfeição.
É bem assim que ensina Santo Tomás: o ingresso na vida religiosa, por ser o maior bem é, todavia, um bem concedido também aos menos perfeitos com a condição de que não lhes falte o propósito de querer melhorar e verdadeiramente se santificar.
Cada cristão, no mais, não deve se satisfazer em pensar e providenciar unicamente para si, mas deve também pensar em prover para o bem dos próprios irmãos e, entre estes, os mais necessitados de auxílio corporal e espiritual; por que, se é este o preceito do Senhor para os seguidores do divino Salvador, indistintamente, é preceito ainda mais valioso e recomendado aos mais queridos, os verdadeiros benjamins de nosso Senhor, que são todos aqueles que abraçam a doutrina e a prática dos Conselhos evangélicos.
Disto se deduz que os Servos da Caridade devem sentir vivo o dever, comum o desejo de auxiliar fisicamente e espiritualmente também aqueles próximos, verdadeiros irmãos, filhos comuns na família do Pai celeste.

LUÍS GUANELLA, Regulamento dos Servos da Caridade, 1910